António Galamba: “Os vários nãos do Benfica campeão”
“Há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não”.
Não, não invadimos o centro de estágio dos árbitros para ameaçar Artur Soares Dias e os seus pares, na presença do presidente do conselho de arbitragem, sem que tivessem sido apresentadas as queixas e abertos os processos por coação que se impunham.
Não, não faz parte do nosso ADN pinchar paredes de propriedades de árbitros ou dos seus familiares com ameaças e persistir em ameaças e pestilentas incitações ao ódio nas redes sociais, nas contas pessoais ou associadas a claques oficiais.
Não, não escolhemos os líderes da Federação Portuguesa de Futebol, da liga ou da arbitragem, nem achamos normal que assistam impávidos e serenos ao que se viu em Portugal e nas competições europeias, sem pingo de respeito pelos elementos centrais do desporto, os atletas.
Não, não passamos os jogos de futebol ou de outras modalidades em sistemáticos insultos a outros clubes, mesmo quando não são adversários presentes, numa permanente incitação ao ódio, como se não houvesse nenhum outro cimento ou marcas de identidade do que a indigente oposição ao outro.
Não, não precisamos de nos contrapor aos outros para ter identidade, memória, competitividade no presente e sentido de preparação de um futuro sustentável, assente no equilíbrio, na formação e na afirmação do potencial global da marca Benfica.
Não, não precisamos de insultar a equipa, de humilhar os profissionais e de ter poderes que se sobrepõem a mínimos de bom senso, embora nos momentos mais difíceis fossem dispensadas as apatias nos palcos dos jogos, os espasmos de ambição de quem não sabe estar depois de ter deixado de estar e de tantas outras expressões de divergência oportunista com o e pluribus unum.
Não, não precisámos de demarcar territórios, de apedrejar autocarros ou de expressar uma pujante pequenez de bairro. O nosso espaço de afirmação é todo o Portugal e o mundo, algo apenas ao alcance das grandes instituições desportivas.
Não, não precisamos de dar cobertura e ampliar o crime organizado que despoja uma instituição desportiva, competitiva e cotada em bolsa de uma década de correspondência digital, pessoal e institucional, para manipular a sua divulgação e procurar obter vantagens competitivas, desde logo pelas informações estratégicas, técnicas e comerciais. Um padrão histórico de crime reiterado, organizado e de indigente previsibilidade, real ou digital, será sempre de difícil reintegração social, mas com tanta cabeçada na parede pode ser que aprendam: para ganhar é preciso ser melhor e não falhar nos momentos- -chave. De pouco valerá transpor o padrão de comportamento da realidade para o mundo digital se a pequenez e a grilheta dos métodos de sempre se sobrepõe ao senso e aos novos tempos.
Não, ao invés de outros, não precisamos de apagar nenhuma memória do passado ou do presente por razões factuais, consequentes e não penalizadas pelos conluios que fazem com que nenhum processo judicial tenha nascido de impulso das estruturas competentes desconcentradas. As mesmas que não hesitam em ser fotografadas e partilhadas em jantaradas de conluio.
Não, não precisamos de acantonamentos, de fanfarronices ou de exercitar uma constante obsessão com os rivais, de forma direta ou através de megafones pseudoindependentes presentes na miríade de programas televisivos de conversa sobre a bola.
Não, não precisámos de encontros em hotéis com rivais para articular estratégias negativas, não contámos com um Estado de direito a funcionar sem entorses e enfrentámos uma tormenta nunca antes vista.
Como em tudo na vida, existem os méritos e os deméritos, houve tentativa, erro e acerto, resistimos, o Benfica é campeão.
É a vitória da linha de gestão de Luís Filipe Vieira, da aposta em Bruno Lage e na formação, de um projeto que tem de ter sempre alma vencedora e de um sentido de futuro em que nem todos acreditaram.
É uma vitória do trabalho sobre o bitaite, da visão sobre a ocasião, da firmeza sobre o desespero e de um mar de sócios e adeptos que, em casa e onde quer que seja, fazem de qualquer espaço uma festa genuína, popular, portuguesa.
É uma vitória da resiliência, da persistência e das diversas formas de expressar as convicções, dos atos de gestão à comunicação, sempre com o foco no trabalho de casa, e não nos outros.
É uma vitória contra a duplicidade de critérios, o sustentado favorecimento do FC Porto – cerca de dez pontos a mais – e uma persistente falta de respeito pela instituição Sport Lisboa e Benfica por parte da liga, do conselho de disciplina e da Federação Portuguesa de Futebol.
É uma vitória do maior que Portugal, uma oportunidade para recuperar um trilho de consolidação da memória, de competitividade e de construção de um futuro assente nos valores sólidos da formação, da inovação, do património e de uma forma única de pulsar o amor ao clube.
Somos campeões porque fomos melhores, mais fortes com os rivais e mais regulares.
Sim, Benfica é um sim, para a vida, em casa e onde quer que seja, contra tudo e contra todos, em campo, como sempre.
Sim, o que não nos mata torna-nos mais fortes. Como fomos tantas vezes no passado e no presente, como seremos no futuro. Em linha com o registo da década, vitorioso, glorioso, sempre SLB.
Continuem a fabular, a destratar, a distraírem-se com o outro e a destilar veneno – por nós, não passarão.
Somos SLB, campeões. Não conseguiram, o campeão voltou.
Com tolerância e respeito, apesar do muito que está cá dentro acumulado da época, é festejar e olhar para o amanhã.